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domingo, 25 de dezembro de 2011

Cada um tem o seu... [6º Episódio]


De repente o mundo de Sónia caíra quando olhara para a cara do rapaz. Não queria acreditar no que acabara de ver, estava agora totalmente perplexa.

-Rui?

Novamente, em pouco mais de 2 segundos a vida de Sónia tinha dado outra reviravolta. Os pensamentos enchiam a sua mente, de dúvidas, perguntas e até receio. Receio do que pudesse acontecer a partir de agora e a magoasse. Receio que a ferida que tem no coração já estava a começar a fechar. Mas agora iria fechar totalmente e Rui seria um raio de luz, ou apenas um desfoco na sua vida? Pelo menos o desejo de ver Rui novamente havia-se concretizado. Naquele momento o mundo desabara por completo. Na visão de Sónia, permanecia tudo imóvel, menos Rui. Que sorria ao ver Sónia. Sónia também sorria, mas chorava. Não sabia se eram lágrimas de felicidade... ou talvez de tristeza.

-Rui... tu estás vivo Rui! Não acredito tu estás vivo. - Disse abraçando-o.

-Tive tantas saudades tuas Sónia. Cada dia e cada noite sem te ver. Nunca soube mais nada de ti. Mas Sónia... eu agora tenho a certeza. Não restam dúvidas. Eu amo-te! Sempre te amei, e não te quero voltar a perder.

Ana calada assistia ao momento, também perplexa. Sónia, ouvira uma das melhores coisas que ouvira na sua vida. Afinal agora Rui amava-a e tinha a certeza que ela o amava também. Pela primeira vez na vida, não havia quaisquer dúvidas ou receios. Ou será que havia? Sónia começava agora a pensar no que tudo o que tinha passado. Já havia passado um ano meses desde a trágica noite mudou a sua vida por completo. Então porque Rui não aparecera antes? Porque Rui não a procurara-a se a amava profundamente? Sónia, sentia-se agora traída. Aquele pensamento, fez-lhe ver a verdade que estava perante os seus olhos. Sónia havia sido traída por Rui, pelo facto de não lhe ter procurado e revelado que estava realmente vivo, enquanto sofria dia após dia pela sua morte.

-Como é que me pudeste fazer isso? Como? - Questionou a rapariga.

-Deixares-me sofrer desta maneira, e agora apareceres assim? Como se não fosse nada? Achavas que eu mal te via eu saltava para os teus braços, esquecendo a dor e os longos meses que passei a pensar que tu tinhas morrido? Como é que me pudeste fazer isto? Como? Eu nunca imaginei isso vindo de ti. NUNCA! - Gritava Sónia no meio da escola. Virou as costas e foi-se embora. Ana foi atrás dela.

-Sónia... Sónia espera ai, deixa-me explicar. Sónia...



Rosália estava agora sentada na mesa. Bebia um café e comia umas torradas, já que não comera nada ainda. António saíra do quarto, já vestido e dirigiu-se para a sala, e acendeu a televisão.

"Já a seguir no Diário da Manhã, revelamos alguns segredos que envolvem todo o processo do caso 'Parque' e os seus arguintes."

-Isto está cada vez pior. Este pais, sinceramente daqui a pouco estamos a voltar à ditadura. Olhe que não falta muito. - Disse o homem.

-Ai, também não me espantava nada. Da maneira que este governo anda. Ao que parece eles tinham três escolhas... ou ressuscitavam o Salazar, ou chamavam o FMI, ou iam a Fátima pedir um milagre muito grande. Mas como o Salazar caiu da cadeira, o mesmo pode voltar a acontecer e depois não podem comprar mais cadeiras porque estamos em crise e ia ser lindo ver o parlamento todo de pé como se tivesse a cantar o hino, o Papa veio a Fátima no ano passado, por isso já não deu tempo... então a única hipótese foi escolher o FMI.

-Bem, mudando de assunto, querida quando é que vai voltar ao hospital?

-Mais logo se Deus quiser. Não sabia que estava assim tão interessado para ir ao hospital.

-Eu só fiz uma pergunta querida, uma pergunta. E sabe porquê? Porque hoje tenho a noite livre e queria levá-la a jantar fora. O que é que acha?



Joana pegava no telemóvel mais uma vez com esperança que a irmã lhe liga-se. Estava sentada no sofá a ver televisão. Até que o telemóvel começa a tocar. Era Sónia.

-Estou Sónia? Está tudo bem contigo? Onde é que estás? Queres que vá ai ter contigo?

-Não, não! Eu estou bem. Só queria que soubesses de uma coisa. O Rui está vivo!

-A sério? Não... estás a brincar certo? Isso é ótimo. Que bom.

-Ok, o recado está dado. Disse Sónia desligando o telefone.

-Sónia? Sónia? Olha desligou.

-Quem era? - Perguntou Alexandre entrando na sala, vindo do quarto.

-Era a Sónia. O Rui está vivo.

-A sério? E ela como é que ela está? Deve estar radiante.

-Não sei. Pela voz, dela não me pareceu lá muito contente. Sei lá, parecia ainda estar magoada.

-O que é que achas que aconteceu? Chateou-se com o rapaz? Disse rindo-se.

-Ai, que tens tanta piada.

-Pronto estava só a brincar. Não leves a mal. Respondeu indo para a cozinha e fazendo uma careta. Joana continuara no sofá preocupada com a irmã.



Apesar de tudo aquilo... de toda a dor de Sónia. A vida de Rui também não estava fácil. Os pais aviam mudado de cidade, para ver se faziam esquecer a dor. Naquele momento era a única coisa que sabia sobre os pais. Estava agora sozinho no mundo. Sem ninguém que lhe desse um

conselho ou ajuda. No ombro, permaneciam as cicatrizes do passado, que agora por vezes afectam o presente. Apesar de a maior parte das cicatrizes poder desaparecer com uma cirurgia. A maior cicatriz ficara para sempre na vida dele a marca que ficara gravada no coração e na alma...