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sábado, 24 de dezembro de 2011

Cada um tem o seu... [5º Episódio]

Rosália andava apressadamente pelos longos corredores do hospital, teria recebido a informação que Ricardo estava no último quarto à direita. Até que chegou à porta do quarto, antes de entrar, respirou fundo e tentou acalmar-se. Abriu a porta e entrou. Mal olhou para a cara do filho e viu o seu sorriso correu para ele e abraçou-o. O destino escolheu que Ricardo tinha de viver... Rosália estava profundamente descansada. Apesar de uma perna partida, Ricardo brevemente teria alta no hospital.

-Como é isto que aconteceu filho? - Perguntava Rosália.

-A culpa não foi minha mãe, eu ia ali na boa, o gajo que ia à minha frente parou de repente e olha... fui contra ele. Palhaço de merda! - Respondeu.

-Ricardo... então? De certeza que foi um acidente. -Estava tão preocupada filho, saiste de casa não disseste nada a ninguém. Nem para onde ias, com quem ias... enfim. Mas ainda bem que estás bem. Isso é o que importa agora. - Disse dando um beijo na testa do rapaz.

-Tens fome? Queres que vá lá fora buscar qualquer coisa para comeres?

-Sim pode ser... Podes trazer-me um chocolate?

-Ora, deixa lá ver se tenho dinheiro, é que eu sai de casa a correr nem trouxe télemovel nem nada. Olha tenho aqui 2,00 euros, deve chegar. Eu já venho.

Nesse momento o médico entrara no quarto. Disse boa noite e dirigiu-se para perto da cama de Ricardo. Olhou para a ficha médica e perguntou:

-Já deve ter perguntado ao seu filho, o porquê do acidente. Estou certo? - Perguntou.

-Sim, sim, o Ricardo já me explicou tudo. O moço que ia à frente fez uma travagem brusca e ele acabou por bater na traseira do carro.

O médico olhou incrédulo para Rosália, esta não percebeu porque é que o médico olhava para ela daquela forma.

-Acho que o seu filho não lhe contou o que se passou realmente. O que se passou foi que o seu filho, saiu de uma discoteca totalmente embriagado, pegou na moto e ia para casa. Mas teve que parar pelo caminho para fazer-nos uma visita. A sorte foi não ter entrado em coma alcoólico, com tanto álcool que tinha no sangue.

-O quê? - Perguntou Rosália totalmente incrédula e desiludida com tudo aquilo que acabara de ouvir.

-Isto é verdade Ricardo? - Perguntou.

-Sim. Sim é verdade. - Respondeu cabisbaixo.

-Não, não eu não posso acreditar no que estou a ouvir. Tu estás a dizer-me que saíste da discoteca totalmente bêbado e ainda vinhas de moto para casa? És louco? E ainda por cima mentiste-me.

-Então o que é querias que fizesse? Ficasse na discoteca até as empregadas de limpeza chegarem e mandarem-me dali para fora?

-Apanhavas um táxi, uma camioneta, pedias boleia a alguém. Sei lá. Mas agora conduzir uma moto totalmente bêbado? Só para não falar que podias ter morrido. É impressionante a tua falta de responsabilidade, impressionante. Bem, eu vou mas é lá fora beber uma água, qualquer coisa que me acalme. - Disse saindo de seguida do quarto.

-Mãe... Mãe... - Gritava Ricardo enquanto a mãe saia do quarto. Olhou para o médico e este abanou a cabeça.

-O que é que quer? Não tem coisas para fazer não? Vá mas é tratar da sua vidinha.

Rosália foi até ao snack-bar do hospital e pediu um café. A sua cabeça estava agora como antes, calma, descontraída, engraçada... para quê levar a vida tão a sério se os outros não a levam? Acabou de beber o café, e foi directa ao quarto onde o filho estava internado. Chegou, deu-lhe um beijo e disse:

-Adeus filho vou para casa ver se durmo pelo menos um bocadinho, como deve ser. Ficas bem?

Ricardo surpreendido respondeu:

-Sim, fico bem mãe não te preocupes!

-Ok, filho então até logo. - Disse Rosália saindo do quarto.



Já eram cerca das 9:20 da manhã, Sónia levantava-se agora da cama. Ainda um pouco com sono foi para a sala e começou a preparar o pequeno almoço.

-Já acordada? - Perguntou Ana.

-Sim, parece que sim. Olha o que é que queres para o pequeno almoço?

-Ai, deixa estar que eu faço. Afinal tu aqui és a convidada.

-Não, não, não. Eu sou a convidada, mas faço questão de fazer o pequeno almoço. Diz lá o que queres para comer.

-Ok. Sendo assim aceito. Pode ser uma tigela de cereais.

-Estes que estão aqui?

-Não, são aqueles que estão ali em cima do armário.

-E o leite? Está no frigorifico?

-Sim, está. Não queres ajuda?

-Não! Deixa-te estar. Vai-te mas é lá vestir que daqui a pouco temos de ir para a escola.

-Ok, chefe. Sempre às ordens. - Respondeu Ana dirigindo-se para quarto.



António acabara-se de levantar. Saiu do quarto, dirigiu-se para a sala, sentou-se no sofá e começou a ver televisão. Rosália que entretanto chegara a casa dirigiu-se para o marido, e deu-lhe um beijo.

-Então querida? Como está o Ricardo?

-Está bem! E eu a pensar que isso não lhe interessava. Já que ficou até à pouco deitado na cama.

-Então querida, isso não é verdade, estava aqui preocupado que nem conseguia dormir.

-Querido... deixe-se de mentiras. Vê-se logo que acabou de acordar. Essa cara de sono e esse cabelo em pé não engana ninguém. Quer café? - Disse Rosália indo para a cozinha.

-Não obrigado, vou me vestir.



Ana e Sónia estavam já a caminho da escola. No caminho falavam de variadas coisas. Sónia contava e recordava com emoção a sua vida antes do acontecimento trágico que matou os seus amigos. Ana olhava para o olhar de Sónia, tinha pena de tudo o que tinha acontecido à amiga. Mas nada podia fazer para a ajudar. Só o tempo podia curar a imensa ferida que Sónia tinha dentro de si. A emoção de Sónia quando falava no passado, era grande. Fazia um grande esforço para não chorar, e pensar que aqueles momentos nunca mais voltariam.

-Sabes, foram grandes anos da minha vida. Não é fácil, de um dia para o outro habituar-me à ideia que tudo isto desapareceu de repente.

Sónia deixara agora cair um lágrima, aqueles sentimentos eram mais fortes do que ela. Ana, levou a sua mão à cara da amiga e limpou-lhe a lágrima. Apercebendo-se depois do que tinha acabado de fazer.

-Desculpa... não queria fazer isto.

-Não, não faz mal. Está tudo bem.

As duas estavam já muito perto da escola. Entraram, e encaminharam-se para o pavilhão onde iam ter a primeira aula da manhã. Enquanto caminhava, todos os alunos olhavam para Sónia que se sentia incomodada, mas continuou o seu caminho olhando também para todos os lados. Distraída a olhar para trás, foi contra um rapaz que estava no seu caminho, pelos vistos também distraído.

-Ai! Desculpa, foi sem querer. - Disse Sónia de imediato.

De repente o mundo de Sónia caíra quando olhara para a cara do rapaz. Não queria acreditar no que acabara de ver, estava agora totalmente perplexa...

-Rui?