
- Insuportável
- Tenha calma Eugénia – dizia pacificamente Emanuel (director da Escola da Torre)
- É o problema da juventude! Pensam que são os melhores e enchem – se de orgulho.
- A Eugénia já sabe como é. Ouça, mais tarde ou mais cedo a professora Inês vai lhe dar razão.
- E de que me interessa a razão? Eu estou preocupada com o bom Nome desta escola.
- Mas não vai acontecer mais nada…
- Ai não vai não…ou eu não me chamo Eugénia Coutinho de Sá.
Muito longe do gabinete da direcção, Inês iniciava a sua 2ª aula ao 12ºH:
- Bom dia! – a simpatia de Inês parecia não se fazer ouvir tal era a balbúrdia na sala. Os olhos de Inês dividiam – se. De um lado procuravam Rui, o agressor. De outro o herói Filipe. Mas nem sinal dos dois…
- Sabem onde estão os vossos colegas? O Rui e o Filipe? – perguntou.
Mas os alunos estavam – se a marimbar para a jovem professora. Inês respirava fundo. Como é que conseguiria domar aqueles diabos? De repente as suas unhas roçaram o quadro e um barulho estridente fez se ouvir.
- Eih passou – se? – disse um rapaz sentado no fundo da sala
- Sónia estavas tão entretida a ouvir a Rita. O que é que ela te estava a dizer?
- Não sei stora… - disse Sónia
- Não sabes? Como não sabes? – perguntou Rita
- Oh Rita eu estava a limar as unhas, não estava a prestar atenção – balbuciou Sónia
- Quer dizer, eu a contar – te a minha vida privada e tu não me ligaste népia. Aii! – zangava – se Rita.
Inês prosseguiu:
- Carlos de que estava o Gonçalo a falar contigo?
- Sobre o jogo do Benfica professora – respondeu o aluno
- Ah? Tas te a passar meu? Eu sou Portista. E tava a falar contigo sobre a Claúdia, a minha vizinha. – enervou – se Gonçalo
- Oh men desculpa. Não pensei que desses importância à minha atenção. Eu tava a acabar este desenho para grafitar lá fora.
A confusão instalou – se de novo na sala, mas bastou um simples estalar de dedos para que as atenções se virassem de novo para Inês.
- Muito bem sim senhor! Estavam todos a falar, mas já viram que ninguém vos prestou atenção. E porquê? Porque cada um de vocês, sem excepção, deu mais importância a si próprio do que ao colega.
- Não é bem assim stora! – ripostou Sónia
- Ai não? – questiou Inês sem obter resposta.
Pela primeira vez parecia que tinha conseguido calar a turma. Todos os alunos baixavam a cabeça envergonhados.
- Quantos de vós acham que são felizes assim?
Foram 24 as mãos que se ergueram no ar.
- E quantos de vós mentiram na pergunta anterior?
As mesmas mãos tremelicaram durante uns segundos mas manteram – se impunes no ar.
- Óptimo. Passemos então à aula! – disse Inês.
Enquanto dentro da sala a jovem professora conseguira domar, pelo menos por instantes, as “feras”, lá fora a discussão estava acesa.
- Eu já disse que não tenho material – dizia Filipe
- Ai men não tas a perceber. Eu tou a desesperar… O meu pai colocou me numa associação. Os gajos não nos dão nada…
- Diogo é uma associação de toxicodependentes. Querias o quê? Que te dessem charros para fumar?
- Por favor men arranja – me alguma cena. Eu pago – te juro! – implorava Diogo
- Eu deixei essas merdas Diogo.
- Não me tentes enganar. Tu adoras este mundo pá! – alucinava o amigo
Filipe repensou na sua resposta e prontamente inferiu:
- Ok ok! Eu vou arranjar umas cenas e amanhã vendo – tas. Mas são as últimas garanto – te.
- Obrigado a sério, obrigado!
O toque de saída ecoava pelos corredores. Inês arrumava o seu material e a sala foi esvaziando. Quando o ultimo aluno abandonou a sala, a jovem professora sentou – se. A felicidade estava imposta no rosto. Tinha conseguido dar a sua primeira aula a sério. Mas havia um problema. Ou melhor dois: Rui não tinha estado lá (pois se tivesse adivinhavam – se momentos mais complicados) e Filipe tinha faltado a uma aula sua. Foi quando se preparava para se levantar que alguém bateu à porta.
- Entre!
-Posso professora? – disse Filipe
- Ainda bem que apareces
- Professora eu…
- Filipe eu não sei o que se passa mas não é normal que em 2 aulas, tenhas faltado a 1 e chegado atrasado a outra.
- Desculpe stora. Ando com problemas…
-Os teus problemas não podem ser transportados para as aulas Filipe. Estás a acabar o 12º ano. É um dos anos mais importantes do teu percurso académico.
- Eu sei stora. Eu prometo que não volta a acontecer
- Não prometas o que não podes cumprir – disse Inês enquanto atravessava a porta de saída.
Filipe olhava para o quadro. Ele queria deixar a má vida mas estava a ser difícil. Diogo era o seu melhor amigo e precisava de si naquele momento… Mas Filipe tinha de deixar aqueles negócios se queria ser alguém na vida e ele sabia disso.
Foi entre pensamentos que Filipe se deparou com um objecto deixado em cima da secretária. Era o telemóvel da professora Inês. Depressa correu pelos corredores procurando encontrar a dona do telemóvel, mas em vão.
- Dona Madalena – chamou Filipe
- Tu outra vez? Que queres?
- Viu a professora Inês?
- Olha rapaz, as professoras não estão para aturar canalha durante os intervalos.
- Eu sei. Mas é urgente…
- Olha se é urgente temos pena, porque a professora Inês acabou as aulas por hoje. Já saiu da escola.
- Merda!
- Desculpe?
- Nada nada! Eu disse que me doía a perna!
Entretanto no gabinete da direcção:
- Como correu a aula hoje? – perguntava Emanuel
- Não sei. Ainda não tive com ela…
- O que tenciona fazer Eugénia?
- Não sei não sei….Mas tenho de arranjar algum plano.
Emanuel levantou – se e encostando – se a Eugénia sussurrou:
- Tenha cuidado! O nosso segredo não pode ser descoberto porque aí sim: as coisas iam correr muito mal para o seu lado Eugénia, e claro… - levantou a voz – para a Escola Secundária da Torre.
Os dois sorriram!
HORAS DEPOIS
No Terceiro andar de um prédio cuja cor parecia ter esvoaçado com o vento há uns belos anos, estava Inês deitada no sofá. Tinha alugado a casa a uma senhora de idade que partira para o Brasil. Agora descansava em frente à TV. À imagem vinha – lhe muitas vezes o rosto de cada aluno do 12ºH mas em particular o de Rui. Aquele ar emproado e a fúria que lhe saia dos olhos não a deixava indiferente. Fazia – lhe lembrar um velho amigo. Mas o pior é que sabia que estava nas suas mãos mudá – lo. Mas como se Rui parecia ter desistido das aulas depois daquela agressão?
O seu pensamento foi interrompido pelo tilintar da campainha. Quem seria àquela hora? Inês abriu a porta um bocado a medo. Pensou que seria um vizinho a queixar – se do som da televisão. Não que tivesse muito alto, mas num prédio tão antigo como aquele qualquer sonoro incomodaria os vizinhos.
Mas a noite ainda lhe reservava uma surpresa: o rosto que viu era o de Filipe.
- Boa noite professora – disse o jovem
- Filipe? Por aqui? – questionou Inês
- A professora esqueceu – se do telemóvel na sala.
Inês nem podia acreditar: como é que se fora esquecer do telemóvel. Quer dizer, no fundo até esperava tal coisa. Desde que perdera os pais que Inês vivera sozinha e eram raras as vezes que o seu telemóvel tinha outra funcionalidade sem ser: relógio digital.
- Oh meu deus. Como eu ando… - balbuciou Inês
- Acontece stora. Bem, aqui o tem então… - disse Filipe enquanto estendia o dispositivo.
- Obrigado a sério. Mas entra…Já que aqui estás quero que me contes como descobriste a minha morada. – As palavras saíram da boca de Inês como foguetes, mas só depois do jovem ter pisado o chão da sua sala é que se apercebeu da atitude que tinha tomado.
- Bem, eu quando fui falar consigo vi o telemóvel. Andei à sua procura pela escola, mas já tinha saído. Então pensei em ver algum contacto que tivesse no telemóvel…
- Ah! E já sei, viste a minha cabula certo?
Quando se mudara para Lisboa, Inês ficara preocupada por não saber qual a morada de casa e decidiu guardá – la como nome de contacto no telemóvel.
- Sim foi isso mesmo! – respondeu Filipe.
- Muito óbvio. Senta – te! Queres tomar alguma coisa? – ofereceu Inês
- Não obrigado. Eu também vou ter de ir daqui a um bocado. – Filipe estava bastante constrangido. Era a primeira vez que conhecera a casa de uma professora e que dialogava com ela como uma mera amiga. Esse nervosismo levou – o mesmo a uma situação embaraçosa:
- Moras aqui há muito tempo? – perguntou Filipe
- Desculpa?
- Enganei – me. Queria dizer “mora” e não “moras”. Saiu – me desculpe! – Filipe não sabia onde se meter.
- Não tens de ficar tão nervoso por isso Filipe. É normal. E se ter mais jeito podes me tratar por tu, mas só aqui!
- Ah não! Deixe estar! Quer dizer: ok pode ser! – Filipe nem acreditava no que se estava a passar. À sua frente Inês fitava – o, e o seu coração palpitava a cem à hora.
A noite foi – se passando e as conversas entre Filipe e Inês aumentando. Entre risos e opiniões o Sol ia – se pondo dando lugar a um luar maravilhoso.
- Adoro ver a Lua. – disse Inês – Quando eu era pequenina o meu pai sentava – me no colo dele e juntos passávamos horas a deslumbrar esta beleza.
Inês percebeu a tristeza de Filipe.
- Que se passa? Estás a apanhar uma seca é?
- Não stora, nada disso! O problema é que, o meu pai e a minha mãe morreram quando eu tinha 3 anos. Fui entregue a uma associação…
- Desculpa. Não sabia…eu não queria…
- Não há problema! Eu já me habituei à situação…
Inês lembrava – se agora do momento em que conheceu Filipe na sala de convívio. Tudo aquilo tinha mudado. O rapaz que via agora à sua frente parecia outro. O jovem não conseguia controlar a sua mágoa e os seus olhos enchiam – se já de lágrimas.
Inês aproximou – se dele. Limpou – lhe as lágrimas e tocou – lhe no peito. Conseguia agora sentir as palpitações de Filipe. Os dois entreolharam – se e o proibido aconteceu. Os dois lábios uniram – se com a Lua como testemunha de um grande momento de cumplicidade.
Filipe não sabia bem o que estava a acontecer, mas sabia que podia durar o tempo que quisesse. Mas esse era o problema. Ele não sabia se queria estar ali, naquele momento. Inês leu – lhe os pensamentos e com um empurrão afastou – o de si.
O jovem fitou uma ultima vez Inês e correu para a porta.
TEMPO DE ANTENA
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