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domingo, 27 de novembro de 2011

Cada um tem o seu... [2º Episódio]


Eram cerca de 9:30 da manhã quando Joana se levantou e foi ao quarto de Sónia para ver como estava a irmã, bateu à porta duas vezes e perguntou:


-Sónia, sou eu! Posso entrar?

-Sónia? Sónia estás a ouvir? - Disse ao mesmo tempo que abria a porta. Joana ficara chocada, Sónia não estava na cama. Decidiu procurar pelo resto da casa mas nada. Foi ao armário da irmã e reparou que a maior parte das roupas estavam desaparecidas. Preocupada foi acordar Alexandre.

-Amor? Amor acorda, nem sabes o que aconteceu. Eu não posso acreditar que ela tenha feito uma coisas destas, não posso.

-Calma, o que aconteceu logo de manhã para estares assim tão agitada? - Perguntou.

-A Sónia fugiu de casa!

-O quê? Quando?

-Não sei, deve ter sido durante a noite sei lá. O que interessa é que temos que ir procurá-la.

-Ela está bem não te preocupes, ela sabe cuidar de si própria.

-Eu sei, mas fico preocupada. Não sei onde é que ela está, com quem está. Pode estar a passar fome. Eu tenho de encontrá-la.

Dito isto, Joana dirigiu-se ao guarda roupa e começou a vestir-se, Alexandre continuava deitado, dando pouca importância ao assunto. Para ele Sónia era só uma miúda mimada que não tinha mais nada para fazer do que estar a chatear a vida dos outros com os seus "problema-zitos insignificantes".



Na casa de António a Segunda-Feira começava a da melhor maneira, um pequeno almoço requintado, pão, manteiga, leite... tudo o que um homem rico tem direito de comer ao começar o dia. Rosália, fora a primeira a levantar, estava a duas semanas à procura de uma empregada doméstica já que a outra se tinha demitido na noite anterior porque Rosália tinha o hábito de lhe chamar "criatura". O dinheiro que António recebia da imobiliária dava muito bem para mudar de empregada todos os meses.

-O Ricardo já acordou? - Perguntou António.

-Ainda não querido, deve estar no quarto forrado a dormir. Ontem esteve até as tantas a jogar no computador. Ai querido, você nem imagina a barulheira que aquela porcaria fazia. Pelo amor de deus. O rapaz deve ter ficado surdo com aqueles barulhos todos. Ora era "Zum" ora era "Pá" aquilo parecia a nossa vizinha a lutar KungFu com o marido. Não sei como é que você teve a ideia de lhe comprar uma coisa daquelas.

-Tecnologia, querida. Tecnologia. O bem e o mal que ela nos pode fazer. Já viu como tudo é tão interessante?!

-Olhe. Ainda bem que está assim tão bem disposto, pois queria ir dar uma volta ao shopping, fazer umas compras, dar um passeio.

-Hoje não dá querida. Aliás tenho de sair agora mesmo se não chego atrasado ao trabalho.

-Mas vai trabalhar hoje? E não me disse nada? Pensei que era o seu dia de folga. Que pena queria mesmo comprar uns candeeiros novo para por no corredor.

-Mudou os candeeiros do corredor na semana passada já os vai mudar novamente?

-Então querido, o que é que quer. Não tenho culpa, é a moda. Está sempre a mudar não é fantástico?

-Enfim Rosália, enfim. Olhe faça como bem entender. Peça ao Ricardo que ele vai lá consigo comprar os candeeiros se não se importar. Mas já sabemos como é que ele é, sai de casa às duas da tarde e volta perto da 1 da manhã. Até logo!

-Bem. Já que posso comprar uns candeeiros aproveito e compro também uns cortinados. Não à nada como uma tarde nas compras.

-Adeus mãe até logo. Vou para a escola.

-Coma alguma coisa antes de sair, não se pode ir embora sem comer. - Esqueci-me que o rapaz hoje tem escola.

Ricardo mal ouviu as palavras da mãe e saiu porta fora. Dirigiu-se ao quintal da casa, montou-se na sua moto e seguiu caminho.

Sónia, conseguira que uma amiga sua lhe deixa-se ficar em sua casa. Eram amigas à pouco tempo, somente desde o inicio do ano escolar, em que Ana tinha vindo de Bruxelas com o pai e vieram viver para Cascais. Eram portanto colegas de turma.

-Tens a certeza que é na boa o teu pai deixar-me cá ficar?

-Sim claro, é na boa. O meu pai está sempre a trabalhar e em viagens de negócios ao estrangeiro. Quase nunca o vejo aqui por casa. Quanto tempo é que pensas ficar?

-Não sei... talvez até organizar a minha vida. Estes últimos meses têm sido muito difíceis. Problemas atrás de problemas. Enfim...

-Ainda não esqueceste o Rui pois não?

-Não! Nunca o poderei esquecer. Mesmo que queira vai ser muito difícil.

-Pois... compreendo.

Naquele momento, fez-se um silêncio ensurdecedor, que fora quebrado por Ana.

-Pois bem, mas agora não vamos pensar mais em coisas tristes. É segunda-feira, está um dia lindo, o que achas de irmos dar uma volta à rua antes das aulas?

-Ok, pode ser. - Respondeu Sónia.



Em casa de António, Rosália pegava no telefone e começara a marcar os números, até que o telefone começou no seu toque de espera para atender.

-Olá, Emília! Então querida está tudo bem consigo?

-Está tudo e consigo Rosália. - Respondia a voz do outro lado da linha. Enquanto Rosália afastava o telefone do ouvido por tão alto que a mulher falava.

-Eu queria perguntar se tem alguma coisa combinada para hoje à tarde depois do almoço?

-Depois do almoço? - Rosália afastava novamente o telefone da cara.

-Não, não tenho nada combinado porquê? - Rosália repetia o gesto.

-Era para lhe perguntar se queria vir comigo ao shopping para fazermos umas "comprinhas". Está um dia tão bonito que nem vale a pena ficar em casa.

-Está bem, está bem. Então eu apareço ai por casa por volta das 14:30 está combinado?

-Combinadissimo, sabe é que o meu marido e o meu filho têm coisas importantes para fazer e eu para não ir sozinha lembrei-me de si! Então até logo Emília. Com licensa.

-Até logo Rosália. Pousando o telefone, e dizendo.

- "Sabe é que o meu marido e o meu filho têm coisas importantes para fazer e eu para não ir sozinha lembrei-me de si!", está bem está, como se o filho e o marido quisessem saber alguma coisa dela. Enfim... só espero não estar o dia todo fechada numa loja com aquela mulher aos berros ao pé de mim. Dizia Emília entredentes.

-E depois sou eu que falo alto. - Pensava Rosália, também pousando o telefone em cima da mesa.

Joana percorria as ruas de Cascais, louca por encontrar Sónia. Levava uma foto que trazia sempre consigo na carteira, e ia mostrando ás pessoas que passavam por ela. Ricardo que avistara parou à sua frente.

-Então algum problema? - Perguntou o rapaz.

-Sim. Por acaso viste esta rapariga aqui?

-Essa era aquela rapariga que ia sendo assassinada por aquele gajo que é assim uma "beca" maluco não é? Pois, não a vi. Só a vi ontem á noite quando ela estava contigo lá no restaurante, ou posso a ver daqui a pouco lá na escola.

-E sabes alguém que seja amigo ou amiga dela. Não sei, que tenha alguma proximidade com ela.

-Acho que sim, pelo menos há lá uma miúda na turma dela que é boa como o milh... pronto esquece. Mas sim ela tem uma amiga lá na turma, acho que são chegadas.

-Ok obrigada. - Respondeu apressadamente a Ricardo dizendo-lhe adeus com a mão. Algo a teria chamado a atenção. Um rapaz que tinha passado a mais ou menos 30 metros dela no outro lado da rua. Parecia que tinha reconhecido aquele rapaz de algum lado, mas de onde? Teria sido seu colega na escola ou na faculdade de medicina? O que era estranho era, mas Joana não ligou e foi para casa.

Chegando a casa, cansada e triste pelo desaparecimento da irmã, notou que Alexandre não estava. Foi à cozinha, abriu o frigorifico e tirou um pacote de sumo que despejou uma pequena parte que sobrava no fundo do pacote num copo. Pegou no copo e dirigiu-se para a sala, sentando-se no sofá e acendendo a televisão clicando no 4 do comando.

-"Boa tarde... boa tarde, ora sejam todos bem vindos ao "A Tarde é sua", e para você que está ai em casa temos um passatempo para si, basta ligar 760 100 760 cada chamada custa 60 cêntimos mais IVA e claro para animar a sua tarde, temos um prémio garantido de 1000 euros..."

Joana ouve a porta a abrir-se e vê Alexandre a entrar.

-Então amor, onde é que andaste?

-Por ai. - Respondeu o rapaz.

-Não sei nada sobre a Sónia, procurei como uma louca, fui a lojas a casa de amigas mas nada. Ninguém a viu!

-Já te disse para não te preocupares que ela deve estar bem, certamente foste a casa das colegas dela do ano passado. Ela este ano pode novas colegas, e por isso novas amigas.

-Ai amor, porque é que me respondes assim. Estou preocupada só isso.

-E eu estou te a dizer que a tua irmã está bem. Ela sabe cuidar dela, se não, não tinha saído de casa pelo seu próprio pé sem avisar ninguém.

-Pronto, já vi que estás de mau humor. Vou para o quarto descansar.

-Vai, vai lá descansar.



Enquanto isso, Rosália e Emília entravam no BMW de Rosália para se dirigirem ao shopping como haviam combinado. No caminho, Emília já não suportava ouvir Rosália, que falava de tudo e mais alguma coisa. O jantar na noite anterior, o que ia comprar ao shopping, o caso do parque e de muitas outras coisas. Emília perguntou se podia ligar o rádio, que estava a dar uma emissão especial na rádio que gostava muito. Era mentira claro, mais valia ouvir uma emissão que para ela era desconhecida do que estar a ouvir a mulher a falar mais de meia-hora seguida.

Ricardo chegara a casa e viu que ninguém estava, pegou no telemóvel e efectuou uma chamada. Logo atenderam:

-Olha, será que me podes arranjar uma "beca" para hoje?

-Juro que te pago amanhã! Só tens é que me dar mais um tempo para pagar as "cenas" que faltam, é muito dinheiro envolvido e tenho de pagar aos poucos se não os meu pais iam reparar que estava a 'torrar' a mesada toda nisto.

-Pois, pois. Não inventes desculpas e daqui a uma hora vem ter ao parque perto do café que fico lá à tua espera!

-Ok. Fica combinado.