Não deixa de ser irónico o que se vive actualmente na TVI. Cada vez que se estreia uma nova produção na área da ficção nacional várias são as vozes criticas que se queixam da monotonia e homogeneidade das novelas Portuguesas.
Agora que "Sedução" ocupa grande parte do horário nobre da estação de Queluz e oferece aos Portugueses tudo aquilo que sempre desejaram, estes rejeitam - na desde a sua estreia.
Quem é fã e seguidor da trama concorda decerteza comigo. "Sedução" não oferece aos espectadores a tipica história do pobre e da rica (ou vice versa) que, por circunstâncias do destino, se conhecem e cujos caminhos se cruzam até viverem felizes para sempre. Isto claro, sem nunca pisarem o risco ou fazerem mal a alguém. Limitam - se a sofrer a maldade dos vilões e a superar as dificuldades.
A trama de Rui Vilhena não só prima pela não existência de um par de protagonistas, como nunca cataloga as personagens como sendo boas ou más. Em "Sedução" todos têm o seu lado maquiavélico e o seu lado "angelical". No fundo: o que acontece com cada um de nós. Em "Sedução" sim, podemos viver o verdadeiro retrato do ser humano (uma novela bastante curiosa para aqueles que se debruça sob os ramos da Psicologia). Por exemplo, no episódio de hoje (Quinta) os Portugueses ficaram a conhecer a realidade dura e crua das televisões Portugueas: José Carlos Faria (João Perry) tentou suicidar - se em directo. À partida uma cena que, chocando a opinião publica, seria retirada do ar. Mas não: a produtora fez aquilo que qualquer um faz na realidade mas que todos negamos poder acontecer: mandou seguir o programa pois "quanto mais horror, mais audiências".
É triste ver que, em pleno século XXI quando se legaliza o aborto, se aceita o direito à diferença (principalmente no que diz respeito aos homossexuais) e se vive com mais racionalidade, os Portugueses ainda estejam tão fechados mentalmente para perceberem a complexidade e beleza das obras de Rui Vilhena. No fundo, nós até sabemos de quem é a culpa: quando se dá chocolate branco a uma criança (durante vários anos), é dificil habituá - la depois a comer chocolate preto. Neste caso: depois de se ter interiorizado o conceito de novela como "produto que serve para rir, comentar e permanecer em estado vegetativo", é dificil mudá - lo para: "produto de aprendizagem e reflexão sobre o homem e a sociedade".
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