
Tem acompanhado a série "Morangos com Açúcar"? Se sim, o que tem achado desta 7ª temporada?Infelizmente não tenho acompanhado a série com a mesma assiduidade, porque o trabalho não me tem permitido. Porém, do pouco que tenho visto, parece-me que se tem vindo a apostar numa linha narrativa do tipo «Fame». O único problema que, a meu ver se coloca, actualmente, passa por uma melhoria de conteúdo da escrita das histórias que são contadas. Ou seja, continuamos a tratar os assuntos superficialmente, quando poderia haver uma maior riqueza na descrição das personagens e dos conflitos que elas vivem. A juventude na realidade é muito mais interessante, enquanto seres humanos, do que, às vezes, é retratada na ficção.
Guilherme quando entrou para a série (logo na primeira temporada) alguma vez imaginou que "Morangos com Açúcar" iria "viver" tanto tempo e sempre na liderança?
Não pensei em nada disso. Todavia, quando se procedeu ao lançamento do primeiro episódio, recordo que José Eduardo Moniz, director da TVI, afirmou categoricamente, que se tratava de uma série de longa duração (não de uma telenovela!), e que se tudo corresse bem estaríamos no ar pelo menos 3 anos. Ora se já vai na sétima temporada, siginifica que a aposta estava certa e que ele estava consciente das necessidades do mercado. E, desde que acompanhe os desejos do seu público alvo, poderá estar no ar por muitos e muitos anos, porque ir-se-á transformando ao sabor do tempo e das vontades.
Muitas pessoas acusam a série de transmitir imagens que poderão influenciar negativamente os adolescentes Portugueses. Por exemplo (e visto ter feito papel de Professor na série), quando vemos alguns alunos gozarem com os professores ou terem atitudes de desrespeito pelos mesmos. Há quem acuse a marca MCA desta alteração no comportamento dos estudantes Portugueses. Concorda? Porque?
A rebeldia sempre foi característica da adolescência em todos os tempos; no dos nossos antepassados e nos nossos. É por isso que para um adulto deveria ser mais fácil compreender um adolescente, embora nem sempre tal aconteça. Muito antes dos Morangos, já se manifestavam casos de rebeldia extrema nas escolas em Portugal, sobretudo nos grandes centros e áreas suburbanas problemáticas. Logo após Abril de 1974, as escolas sofreram uma mudança comportamental de degradação. Digo-o, porque fui, na realidade, professor do ensino secundário entre 1972 e 1985, e assisti à progressiva deterioração dos hábitos escolares. Acusar os Morangos desse facto é uma visão simplista. Porém, do ponto de vista da escrita narrativa, considero que existe uma responsabilidade ética, para que nunca possa ser acusada desse simplismo. Parece-me que os assuntos tratados devem merecer um cuidado narrativo, para que sejam paradigmáticos e possam servir de exemplo a terceiros. Diz o ditado popular que «pelas costas dos outros eu vejo as minhas», e o mesmo se deve passar com o espectáculo teatral. O produto televisivo não é mais do que isso, um suporte audiovisual em diferido. Guarda as mesmas características do teatro, que sempre foi e será a reprodução destacada de um quotidiano sobre o qual exercemos o nosso dever de crítica intelectual construtiva.
"Morangos com Açúcar" tem se conseguido adaptar às mudanças da sociedade de ano para ano? (Por aquilo que vê)
Parece-me sobretudo que se tem adaptado no aspecto de entretenimento. Apresenta um lado lúdico muito forte, nota-se uma melhoria de qualidade cenográfica, de figurinos. A realização revela-se dinâmica, para o que muito têm contribuido os realizadores chefes de projecto e os directores de actores. Gente dinâmica e inovadora. O mesmo já não posso dizer da escrita, que não me parece evoluir ao mesmo ritmo da realização. Para mim, faltam diálogos menos explicativos e mais actuantes, maior criação de situações de conflito que me façam vibrar do outro lado do ecrã televisivo, quando me sento no sofá à sua frente.