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segunda-feira, 27 de julho de 2009

CASA DA CRIAÇÃO - A empresa que escreve a maior parte das novelas da TVI!

O nome não poderia indiciar mais o conceito que encerra. Numa das principais artérias de Lisboa situa-se a casa onde se cria grande parte das novelas da TVI. Uma fábrica de escrita e imaginação, dirigida por Adriano Luz.

Quem por ali passa não calcula o que é. A fachada antiga não deixa adivinhar que nas instalações de um apartamento, cuja área é invejável, se produzem sonhos para aqueles que assistem depois às histórias no pequeno ecrã da TVI. Uma vez tranposta a porta da Casa da Criação, o imaginário povoado por conjecturas adquire contornos reais.

As múltiplas divisões que se vão desdobrando a cada esquina de parede guardam segredos que, por enquanto, só aos guionistas, que tecem as teias dos argumentos de algumas das ficções nacionais, pertencem. De momento, cada equipa, nos seus aposentos próprios, produz os textos de "Deixa que te leve", "Morangos com açúcar - Férias de Verão VI", e "Fruto proibido", trama ainda por desvendar, do autor António Barreira. Também a série "Damas e Valetes", de 26 capítulos, foi adaptada pela Casa da Criação.

A nível de coordenadores de projecto contam-se quatro: Patrícia Muller; Sandra Santos, José Carneiro, e António Barreira, a que se somam 12 elementos, que contribuem para levar a bom termo a feitura de episódios, cuja meta se estabelece na proporção de um por dia. Adriano Luz, actor e encenador, a quem cabe dirigir e supervisionar todo o trabalho levado a cabo pela empresa que tem um acordo tácito de exclusividade com a Plural (antiga NBP), produtora da Media Capital revelou-se um excelente anfitrião, mostrando todos os cantos "à Casa".

Numa longa conversa, o responsável explicou a orgânica, e como funciona o olear da máquina a mexer desde 2001. Adriano está, relativamente há pouco tempo à frente dos destinos da Casa da Criação, sendo que atribui à sua "capacidade para discutir textos dramatúrgicos", proveniente da bagagem que tem a nível "de noção da oralidade", a grande mais-valia que ali presta. Exige-se, pois, "capacidade de síntese e economia das palavras" nos guiões, por forma a facilitar o trabalho dos actores", sublinha. "A democratização da escrita é também um exercício complexo", sendo que as cenas mais difíceis de elaborar são "as triviais".

Desmontar textos é, pois, tarefa árdua e o que transpira na televisão como sendo simples, está embrulhado num pacote moroso de desconstrução. "É na rapidez do débito", associada "ao ritmo de vida" que se prende a chave da verosimilhança dos diálogos.

Na Casa da Criação, desenham-se, em simultâneo, três projectos, enquanto um quarto permanece em estado embrionário. O director decifra que "um guionista não é um autor". Há técnicas que têm de se dominar. Quem escreve argumentos é como que proletário da escrita, que concretiza as ideias dos operários da imaginação.

No fundo, "todas as novelas reinventam os grandes clássicos", porém, Adriano aponta críticas "à falta de escolas no nosso país para guionistas e escassez de formação equidistante dos produtores", o que torna todas as aprendizagens viciadas. Outro dos aspectos que assinala é o facto de "não lhes ser permitido parar". Não há tempo para se fazer o luto de um guião. "O ideal era um período de nojo, mas o 'refresh' não é bem conseguido". E remata: "Inventámos o novo método de levar sempre o computador nas férias".


FONTE: Jornal de Noticias!