Depois de toda aquela cena Sónia começou a correr em direcção à portaria. Agora que não estava lá ninguém poderia sair, mas a portaria estava trancada a cadeado. O guarda noturno corria atrás dela. Sónia ficara surpreendida com o monte de policias e bombeiros que estavam do lado de fora do parque de diversões. Era uma grande confusão. Como teriam ido eles ali parar? Sónia tentava abrir o portão com vários pontapés, mas nada, até que o guarda a apanhou.
- Vais ficar quietinha pá, muito quietinha - dizia o guarda ao ouvido da rapariga.
A policia percebeu que o guarda tinha uma faca apontada ao pescoço de Sónia.
- Largue a rapariga e tentaremos arranjar uma solução - disse um policia com um megafone.
- Uma solução? Uma solução - dizia o guarda rindo do policia - farto de soluções estou eu.
- Largue a rapariga - Repetiu o policia - você está encurralado, não tem por onde sair. O melhor é largar a rapariga antes que se arrependa.
O guarda-noturno fazia de conta que não ouvia, mas sabia que estava encurralado, aliás sabia desde sempre que aquela era a última noite de liberdade, para ele os meios justificavam os fins.
Sónia tinha a cabeça a andar à roda, o cansaço, a fome, as saudades de casa. Seria aquela a última noite da sua vida?
O policia da PJ João Mendes tentava esclarecer a situação da melhor maneira possível.
- Ponham atiradores em cima dos muros - ordenou.
João virou-se para o seu companheiro e disse:
- É desta que ele vai dentro, isso podes ter a certeza.
João afastava-se lentamente da multidão mais o seu companheiro de serviço, pois tinham um plano em mente.
Com a ajuda de um escadote, no lado norte do parque João e o seu companheiro treparam o muro. A idéia era surpreender o guarda pelas costas. Apesar de ser uma idéia muito perigosa era a única maneira de parar este serial killer.
Andavam em direcção ao portão encostados ao muro, até que chegaram perto do guarda.
João atirou-se para cima do vilão deitando-o ao chão. Sónia fugira na direcção dos policias e bombeiros que logo a socorreram. O companheiro de João tinha agora a pistola apontada ao assassino enquanto João o algemava. Sónia já estava sentada em cima de uma maca perto da ambulância com uma mascara de ar. Até que João passou com o guarda em frente dela.
- Por que é que fez isto? - perguntou a rapariga.
- Pelo meu filho - respondeu o guarda.
- Há quatro anos, vim com o meu filho a um parque de diversões, e ele pediu para andar num dos carrosséis. Andamos os dois juntos, até que o carrinho onde ele estava soltou-se, ele deu um salto de doze metros e morreu. Tudo por causa destes estúpidos, destes emigrantes ilegais que não sabem fazer uma porcaria que seja de jeito. Foi por causa destes cabr... que o meu filho morreu. Foi por causa deles que me tornei neste monstro. Tudo por causa deles.
- O único culpado aqui é você, os acidentes acontecem, as vinganças também, mas não de propósito. Você é que merecia estar morto em invés do seu filho, você é que devia pagar por todo o sofrimento que o seu filho deve estar a sentir ao saber que o pai é um assassino. Você não tem vergonha nenhuma na cara - gritou Sónia.
- Já estou a pagar - respondeu o homem deitando os olhos uma ultima vez ao parque de diversões.
João levou - o embora para o carro da policia. Passavam agora duas macas, Sónia levantou-se e foi ver, abriu o fecho do saco que estava em cima da maca: era Sandra e no outro saco o Carlos. Estavam muito brancos, fragilizados. Sónia não se conteve e começou a chorar. A enfermeira consolou-a:
- Os seus dois amigos deviam ser muito simpáticos e bons amigos.
- São três, mas e o Rui? Onde é que está o Rui? - perguntou Sónia.
- Já passamos o parque a pente fino e só encontramos estes dois - estranhou a enfermeira.
- Então onde está o Rui? Onde?
Sónia olhava agora para o parque de diversões...Ainda iria a tempo de contornar o destino?
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