Há quem não consiga deixar de transpôr a ficção para a realidade e odeie quem do outro lado interpreta o papel de vilão. Outros há que vivem a vida dos famosos como se se tratasse da sua e aos poucos os integram na sua própria familia. Afinal porque razão entram os famosos na nossa vida e na nossa casa sem que notemos que se tornam quase mais próximos que muitos familares?
Já se passaram 5 anos desde que Francisco Adam, um eterno idolo para a juventude, faleceu vitima de um acidente de viação mas ainda hoje o local do acidente se encontra repleto de flores, velas e cartazes. Pessoas que, semanalmente, ocupam parte do seu tempo na dura tentativa de imortalizar o Dino de "Morangos com Açúcar". Fazem - no não por obrigação mas porque viveram a vida de Francisco como se fosse a de um irmão, primo ou sobrinho. Muitos nunca o conheceram pessoalmente, mas diariamente era a sua companhia na televisão.
Esta manhã o programa "Querida Júlia" (SIC) à semelhança do "Você na TV" (TVI) ocupou uma das partes do seu alinhamento para falar com fãs de Angélico Vieira, o cantor falecido esta madrugada. Uma dessas intervenções (a que assisti) era feita por uma senhora de seus 70 anos que chorava amargamente sem sequer conseguir corresponder ao pedido da psicologa presente em estudio: respirar fundo. Quando questionada sobre tamanha tristeza a senhora dizia - se arrependida por ter chamado tantos nomes à personagem de Angélico na novela "Espirito Indomável", tanto que acabou por deixar a televisão para não mais se irritar com o terrivel Simão da novela da TVI.
Dois exemplos (o de Francisco Adam e o de Angélico) de como nós, enquanto espectadores, nos deixamos levar pelas vidas dos famosos. E afinal, porque motivo? Não os conhecemos pessoalmente e eles nem fazem ideia de que existimos, mas todos os dias nós vemo - los na nossa televisão. São eles que nos fazem companhia diária, com eles rimos, com eles choramos e até criamos certas amizades metafisicas. Tratamo - los por "Juca", "Manel", "Zeca" ou pelo nome das personagens a que dão vida ("Estrelinha", "Santinha", "Ceuzinha")...Agora imagine que um dia esses grandes nomes vão deixar de aparecer na televisão e nas revistas. Vamos deixar de os olhar, embora esse olhar nunca tenha sido reciproco. Vamos deixar de falar das suas vidas, mesmo que estas não passem de histórias.
É isso que neste momento se passa nos corações e mentes dos milhares de fãs de Angélico Vieira que viram ontem apagar - se a luz da esperança. Durante anos habituaram - se a vê - lo, imitaram hábitos e costumes, repetiram frases e piadas e foram - se identificando cada vez mais com o artista. É isso que se chama ser idolo de alguém: fazer parte da vida de uma pessoa mesmo sem o saber!
A dor que todos sentem pela perda de Angélico não é ficticia, é real e chega a doer mais que a dor de perder algum familiar. Não se trata de exageros ou exibicionismos da idade, mas a perda de alguém que se acostumaram a seguir.
Haverão muitas mais razões para nos "ligarmos" com quem trabalha no outro lado do ecrã, mas a mais forte de todas é a de que são a companhia diária para muita gente. Fazem a vez do neto, do filho, do irmão ou do melhor amigo e a sua perda é sinal de vazio pois agora já não esta lá o rosto diário que nos acompanhava, mesmo sem saber.
É costume dizer - se que só um grande artista consegue fazer confundir a realidade com a ficção, ou transmitir a sua própria essência para quem o vê. E não é por um mero capricho vocabular que se atribuiu o nome de "caixinha mágica" à televisão. É por sê - lo realmente. E a magia do mundo da televisão está na capacidade de acompanhar os espectadores e de fazê - los criar laços que, muitas vezes, são impossiveis de ser criados no dia-a-dia.
Em suma, não são mais uns pontos perceptuais no rating diário (audiências) ou um share estrondoso que dão alegria aos "verdadeiros" famosos: é sim, a certeza de que são a companhia de alguém. E já agora: no caso de Angélico era a companhia de muitos....
TEMPO DE ANTENA (ESPECIAL)
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