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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Todos temos um...

[A série que se segue é da autoria do MAIS TVI e é postada todas as Sextas - Feiras às 18h00]


 
“E segue em frente Lopez…vai em direcção à baliza. É falta! Falta de Hugo Santos. O defesa da Selecção das Quinas a cometer um deslize que pode ser fatal para o fim deste percurso Europeu de Portugal. O som frenético e supersónico do relatador saía por entre os buraquinhos sujos de um rádio que parecia saído de uma autêntica “máquina do tempo”. Sentado a um canto Vicente Machado vibrava com o jogo de Hóquei. A monotonia que se vivia no Departamento de Investigação Criminal puseram – no ali: encostado às paredes à espera que um golo em Espanha o fizesse soltar um sorriso.


“Penalty! O arbitro Russo acaba de marcar grande penalidade a favor da Selecção Espanhola. Estamos a apenas 10 segundos do apito final e o empate pode estar prestes a ser quebrado. Se Espanha marcar está na grande final deste Mundial de Hóquei em Patins. Se falhar, vamos ter mais jogo…”. Os urros de festa e celebração do campo de Hóquei foram abafados pela entrada triunfante e repentina de Carneiro Gomes, director do DIC, na sala onde se encontrava Vicente.

- Como é que está o jogo? – perguntou com o ar frio de sempre

- É penalty…Estamos quase na final… - respondeu o inspector Machado sem desviar a atenção do pequeno rádio.

- Vamos continuar a ver os Portugueses entretidos por mais uma semana enquanto o nosso governo decide aumentar os impostos ou reduzir – nos os salários?

Vicente preferiu não responder: nunca tinha sido fã de Hóquei em Patins, mas em Portugal não se falava de outra coisa. Diziam os especialistas que a Selecção Nacional tinha, finalmente, a melhor equipa do mundo. Ou melhor: o guarda - redes mais competente.

- O tal Luís está a jogar? – perguntou o director

- Claro que sim…Não é por nada que é a promessa do ano a nível Mundial. Um orgulho para o nosso país.

- Imagino a quantidade de dinheiro que estamos a dar, para ele se pavonear em terras Espanholas…

De novo foi o silêncio a impor – se naquela velha sala…

“Vai apitar o árbitro…muita tensão neste Espanha X Portugal. Relembro que se Xavi marcar, a Selecção Espanhola estará na final enfrentando assim a temível Holanda que deveria estar destina à equipa das Quinas. Já não há nada a fazer…vai apitar, vai apitar…apitou! Xavi indeciso…remata e…GOLO de Espanha! Lágrimas…são lágrimas o que escorre no rosto de todos os Portugueses. Um sonho que cai por terra depois de termos quase atingido o Céu. Mas..calma…Luís Marinho está no chão”

O silêncio que se fez sentir do campo para aquela pequena sala, fez Vicente viver ainda mais o momento.

- Vai na volta desmaiou com a desilusão. E é estes Homens que Portugal anda a criar… - criticou Carneiro.

- Chiu…deixe ouvir por favor…

- Eu não sei se já lhe disse, mas quando fui para a tropa obrigavam – nos a lamber até as terras mais sujas e lamacentas. Aliás houve até um dia em que…

A frase do director do DIC foi temporariamente interrompida pelo histérico berro do relatador:

“Sem respiração. É o boato que corre nas bancadas. A equipa médica está perto de Luís Marinho e corre a informação de que o Guarda – Redes de Portugal está sem respiração…Confirma – se: vemos agora um médico a recorrer à reanimação. É arrepiante o ambiente que se vive no pavilhão. Ninguém festejou o golo de Espanha e o jogo está parado!”

Trrriiiiimmm….Trrriiiimmm…

- Já vai, já vai…Que momento mais inoportuno! – resmungou Vicente, levantando – se do cadeirão e aproximando – se do telefone enquanto o seu chefe se entretinha a “limpar” o pó do pequeno rádio envelhecido. – Sim! Diga…O quê???


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- Vicente Machado, Policia Judiciária! Com quem é que posso falar?

Vicente acabara de chegar ao Pavilhão de Hoquei. Fazia agora 9 horas desde que acabara o jogo do ano e ainda não entendera a razão que o levara ali.

- Puede hablar conmigo. Mi nombre es Juan Estéves. Soy de la policia también.

- Não percebo o que estou aqui a fazer…

- No creo… la muerte de vuestro jugador Luis?

- Sim…mas porque não tratam vocês desse caso?

- Pero que… - o policia tentou arranjar resposta, porém foi interrompido por um senhor alto e musculado. Deveria ter entre os 30 – 40 anos e um tremendo mau gosto no que toca ao vestiário. Usava umas calça largas verde – tropa e uma t – shirt fresca que contrastava com uma enorme echarp preta que lhe cobria todo o pescoço. Um arrepio percorreu o corpo de Vicente. Não conseguia perceber como é que, com mais de 30ºC, aquele homem que via à sua frente aguentava estar com aquele enorme lenço com aspecto bem quente…

- Peço Perdão Juan. Eu preciso de falar com este senhor… - disse enquanto puxava Vicente pelo braço.

Dirigiram – se ambos para uma pequena recepção dentro do pavilhão. O homenzarrão fechou a porta e logo tratou de a cerrar a 7 chaves.

- Nunca se sabe quem pode ouvir a conversa… - exclamou guardando a chave no bolso – Sebastião Pacheco, prazer…

Aproximou – se de Vicente estendendo – lhe a mão. O inspector pode sentir o terrível perfume que Sebastião usava…Cheirava a café. Cada vez achava aquele sujeito mais estranho. “Que raio de mau gosto em todos os aspectos” – pensou para si. Mesmo assim avançou:

- O prazer é todo meu! É capaz de me esclarecer?

- Com todo o gosto…Senta – se? – apontou para um pequeno caixote. Talvez o único sitio capaz de servir de banco naquela confusa recepção.

- Estou bem assim…Diga…

- Bem eu peço – lhe que não me faça o género de perguntas que se preparava para fazer ao Juan. Não há uma explicação lógica para ter de ser a Policia Judiciária Portuguesa a resolver este caso. Digamos que teríamos de entrar em questões politicas…

- Se o meu chefe o ouvisse agora diria de certeza que era mais um motivo para sermos nós Portugueses a gastar dinheiro com investigações.

- E não estaria totalmente enganado devo – lhe dizer…Mas prosseguindo…

Triiim…Triim…

A conversa entre Sebastião e Vicente era de novo interrompida desta vez pelo toque do telemóvel do primeiro.

- Sim, sou eu…Ouça a investigação começou agora, não há qualquer informação ainda. Logo que possamos faremos uma conferência de imprensa. Por favor…deixem – nos fazer o nosso trabalho – parou de falar enquanto soprava com ar cansado – Mas quem é que vos disse isso? Ouça estou a ficar sem bateria…PI! O número de telemóvel que marcou não está disponível. Por favor tente mais tarde – disfarçou Sebastião tentando livrar – se de uma chamada indesejável.

Vicente não conteve o riso…

- Jornalistas! Que bando de abutres. Fazem de tudo para ter uma manchete no jornal. Enfim…onde íamos?

- Ia – me explicar o que se passou com o Luís Marinho…

- Ah! Sim, claro…Bem não foi muito difícil para a equipa de paramédicos descobrir a causa da morte.

- E então? Como é que ele morreu?


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- Envenenamento? Está a brincar comigo? – espantou – se Carneiro

- Foi o que o gajo dos Serviços Secretos me disse…Um tal de Sebastião…

- Bem e eu a pensar que nós Portugueses é que precisávamos de agir pela calada para termos sucesso…

- Perdão? O que quer dizer com isso?

- Oh santa ignorância, padroeira aqui do meu colega Vicente! Então não se está a ver?

- Sim é verdade que o aquecimento global me anda a fazer mal ao cérebro…mas estou mesmo lento…

- Oh homem pense com a cabeça: o Luís Marinho era o melhor guarda redes do Mundo, a promessa do ano…E os Espanhóis não deviam estar muito contentes com o facto de o terem de enfrentar…

- Eu peço desculpa, mas o que está a dizer é surreal. Está me a tentar dizer que foi a Selecção Espanhola a envenenar o nosso guarda redes?

- Não deixam de ser suspeitos…

- Seja como for…Amanhã parto para a Espanha de vez! Vou ter de lá ficar durante umas semanas para poder entrar em contacto com toda a gente que o conhecia.

- Já pus o Inspector Jorge, o estagiário, a recolher informações sobre a vida pessoal do Luís.

- Óptimo. Quero ver isto resolvido o mais rapidamente possível.

- Você e toda a gente que paga impostos em Portugal.

Truz, Truz…

- Entre – ordenou Carneiro

- Posso? Já recolhi as informações que me pediram!

- E então Jorge? Alguma coisa interessante? – questionou Vicente

- Por acaso sim…

- Desenvolva…

- Os inspectores por acaso sabiam da intenção do Luís abandonar o Hóquei em Patins?

- Abandonar? Como assim? – espantou – se Vicente

- Deixar de praticar Hóquei….

- O Luís Marinho queria deixar o desporto? Deixe me rir…A promessa do ano a nível Mundial ia deixar o Hóquei em Patins? – questionou Vicente

- Esse lambe botas ia deixar a sua galinha de ovos de ouro? Ia deixar que os nossos impostos fossem para assuntos decentes e honestos? Huum..sim, sim – criticou de novo Carneiro.

Jorge encolheu os ombros…

- Porquê? – inquietou – se Vicente

- Mais uma pergunta à qual vai ter de arranjar resposta inspector Machado! – proferiu Carneiro!




TEMPO DE ANTENA
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