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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

"O fim do Hipólito foi insólito" [Exclusivo MAIS TVI]

Boa tarde a todos. É com enorme orgulho que estou de volta às conversas, aqui, no Mais TVI. Depois de Júlio César, converso com um ator que integrou o elenco de "Anjo Meu" e que ficou popularizado com o indescritível Rogério Sapinho, em "Morangos com Açúcar". Já sabe de quem falo, não sabe? Claro! Bem-vindo ao "Mais Conversa" Guilherme Filipe!


Dúlio Silva: Boa tarde, Guilherme. Antes demais, é um enorme prazer ter esta oportunidade de conversar consigo. Comecemos... pelo fim! Terminadas as gravações de "Anjo Meu", onde deu vida ao Hipólito, que balanço faz desta experiência?
Guilherme Filipe: Boa tarde, Dúlio. Quando chego ao fim da rodagem fico sempre com a sensação de saber a pouco. Neste caso ainda mais, já que saí muito antes de terminar a novela, por opção dos autores. O Hipólito Raposo escapou-se, como o seu sobrenome, pela calada. De qualquer maneira, o tempo de atuação que tive foi bom. São equipas que já nos conhecemos há muito tempo, que já rodamos outros projetos e, por isso, dá sempre gozo voltar a partilhar uma nova experiência.


DS: A novela centrava-se nos anos 80. Suponho que este pequeno grande pormenor tenha sido uma motivação para o Guilherme, ou estou enganado? Como foi para si reviver estes tempos, com a devida caracterização das personagens, dos cenários, e de tudo o resto?
GF: No meu caso não houve um grande revivalismo temporal. Nos anos 80, andava cá por Lisboa e nem tanto pela província. Curiosamente, há uma coisa que constato: 30 anos depois, as roupas masculinas não sofreram grandes transformações, nem atualizações na minha faixa etária. Para os jovens e para as raparigas sim, há maiores diferenças, há uma moda que se sente. Mas, o facto da novela se passar numa pequena vila de província não marca tanto a passagem do tempo.


DS: O facto de ter entrado a meio da história influenciou e/ou dificultou de alguma forma o seu trabalho?
GF: Não. Até podia ter entrado no fim, que o problema não se punha. O que interessa é saber o passado da personagem e os seus relacionamentos com as outras figuras, sobretudo a família (o filho) e os amigos. A história do Hipólito começa a partir do momento em que ele entra. O passado pode implicar desvendar algum segredo, alguma cumplicidade, mas a construção da personagem segue os mesmos processos.

DS: Para o Guilherme, o fim do Hipólito foi bem escolhido?
GF: O fim do Hipólito foi insólito. Olha versejei! De qualquer modo foi uma opção dos autores, e contra autores não há argumentos; eles ganham sempre... Não me importava de ter ficado um pouco mais; havia ainda facetas que podiam ter sido exploradas, mas valores mais altos decidiram assim e ficou decidido. Há mais novelas, do que marinheiros.... é como as marés.


DS: Não podemos deixar de falar do indescritível Rogério Sapinho da primeira temporada de "Morangos com Açúcar". Como foi recebido este papel por parte do Guilherme? O que foi mais difícil para si nesta personagem? Sofreu muito com o público jovem que acompanhava a série?
GF: O Sapinho é o tipo de personagens que me dá imenso prazer compor. São complexas e quanto mais minuciosas, mais divertidas. É um vilão de banda desenhada no mundo de uma escola que não existe senão na ficção. O Sapinho é uma síntese de alguns professores "chatos" de que me lembro. Não foi difícil compôr a faceta de professor, porque também o sou, e durante 12 anos, ainda por cima, fui professor de inglês no ensino secundário. Veio, portanto, mesmo a calhar para a composição do boneco.


DS: Esta primeira temporada era composta por um magnífico elenco de luxo. Hoje em dia ainda mantém contacto com esses colegas/amigos?
GF: Claro que mantenho. Saíram dos Morangos e agora são umas senhoras atrizes e uns senhores atores. Gente de talento, cuja escola de representação foi, para alguns, na realidade, o "Colégio da Barra", muito antes de se tornar, em ficção, na academia de representação, ou de estilismo, como nas últimas séries.


DS: Em televisão participou ainda em inúmeros projetos. Se tivesse de escolher os que mais o marcaram, quais escolheria? Que papel ainda lhe falta ser entregue?
GF: Na minha carreira de ator existem muitos trabalhos marcantes, tanto no teatro, como no cinema, e na televisão. Felizmente não foi só um, nem consigo eleger apenas um como o mais importante. Em todos eles, houve sempre algum desafio difícil para concretizar. Eu próprio gosto de complicar as coisas, para que elas tenham mais sabor de aventura, e para com isso motivar os colegas também.


DS: O Guilherme tem uma panóplia de projetos em teatro e cinema. Juntamente com a televisão, qual a área que mais prefere? Porquê?
GF:  Eu gosto de ser ator, gosto de representar, dar forma a figuras que vivem situações em cena, e, desse modo, comunicar e partilhar com o público ideias, anseios, alegrias e tristezas. Poder contribuir para que em cada história alguém possa retirar alguma emoção para si, para além do divertimento. Obviamnente que o teatro pede que haja mais adrenalina; trata-se de um espectáculo ao vivo, comunicação directa com o público, um exercício de estilo, de equilíbrio, como um artista na corda bamba. O audiovisual permite, por seu lado, uma composição mais detalhada, mais refinada, na medida em que a câmara se encarrega de captar o pormenor. A grande exigência para o ator, em termos de representação, na tela, passa pela expressão da verdade interior que compõe a alma da personagem. A câmara não sente condescendência por nós, e se o sentimento não estiver lá, o espetador não sentirá nenhuma emoção.


DS: Esquecendo por momentos a parte profissional do Guillherme, falemos agora um pouco sobre a quadra festiva que se aproxima a passos largos. Como é o Natal do Guilherme?
GF: O meu Natal será, como sempre, o mais tradicional possível, em família, convivendo, comendo o tradicional bacalhau, o perú, acompanhado de bom vinho tinto (Alentejano de preferência!), a distribuição das lembranças pelos membros da família, etc..


 
DS: E o ano novo, como passará?
GF: Nunca gostei de festejar a entrada no Ano Novo em grandes magotes de gente. Prefiro a companhia dos amigos nessa festividade, em casa, comendo as 12 uvas, ao som das badaladas do relógio cá de casa, enquanto se sobe para cima de uma cadeira, agarrando uma nota. Enfim, teatralidades que a tradição diz que dão sorte. Se isto é verdade ou não, não sei... mas é melhor não tentar a sorte com experiências. A entrada no novo ano é de galhofa, em que cada um relembra momento bons já vividos e espera que o futuro seja tão feliz como nesses momentos. Uma espécie de futurologia da felicidade.

DS: Façamos do Guilherme agora um verdadeiro Pai Natal. Que presente daria...
  • ao Pedro Passos Coelho? GF: Um enorme saco de bom senso, para o utilizar na governação;
  • ao José Sócrates? GF: Uma viagem à volta do Mundo, à moda do Júlio Verne, para que pudesse estudar outras filosofias, para além da Parisiense;
  • ao José Fragoso? GF: Uma varinha de condão, para que possa desenvolver cada vez melhor as boas capacidades da TVI;
  • ao André Cerqueira? GF: Um passe de três meses num SPA para perder a curva abdominal que foi desenvolvendo;
  • à Eunice Muñoz e ao Ruy de Carvalho? GF: O elixir da longa vida para que eu possa ter o prazer das suas amizade durante muito tempo.


DS: E a crise, já chegou à casa do Guilherme? Em que aspetos?
GF: A crise chegou a minha casa da mesma maneira que à dos outros, sobretudo na forma de interrogação sobre o futuro de todos nós. Por mais que se queira, não se consegue perceber o que vai ser. Como se o ceú estivesse carregado de nuvens escuras, ameaçando chuva que não cai, mas que pode cair a qualquer momento e nós continuamos à espera, sem saber se vamos sair de casa ou não. E neste impasse, sabemos que existe o sol por cima das nuvens, mas que continuamos a não ver, nem saber quando o veremos. São tempos graves.


DS: Voltando à representação... Como recebeu a notícia que dava conta da saída de André Cerqueira da Plural? E todos os seus colegas, como reagiram?
GF: Fiquei a saber agora que o André Cerqueira saiu da Plural. Da última vez que nos vimos, ainda lá estava, faz agora um mês. Não sei quais foram as reações. Todavia, desejo que tenha sucesso no que fôr fazer no futuro.


DS: Depois de "Anjo Meu", que projeto se segue?
GF: Em televisão, não sei ainda de nada. Aguardamos. Na minha atividade académica, continuar a fazer investigação sobre o teatro em Portugal, para uma futura tese de faculdade. E começando a preparar as aulas do ano letivo de 2012/13.

DS: A terminar esta longa conversa, convido-o a deixar uma mensagem aos leitores do Mais TVI.
GF: Aproveito este espaço para deixar uma mensagem de esperança no futuro. Espero que todos consigam concretizar, pelo menos, um sonho, um desejo, uma aspiração no próximo ano, e que essa conquista traga mais esperança ainda e conhecimento das potencialidades necessárias à felicidade, porque, como dizia Raul Solnado: «façam favor de ser felizes». Um grande conselho de um grande senhor!

DS: Guilherme, resta-me agradecer a oportunidade que me deu de falar consigo. Felicidades e boas festas!


Quanto a si, voltamos a ler-nos brevemente... Mais conversas estão a chegar! Bom Natal!
Dúlio Silva