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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Haverá estereótipos de vencedores?

O rapaz ‘musculado’ que enfrenta todos mas que, por amor, acaba por assumir o papel de vítima. A ‘rainha das calinadas’, mimada e bem--disposta, que faz rir tudo e todos. O ‘coitadinho’, singelo e ingénuo, que veio do campo e é muito religioso. É com estes estereótipos que muitos portugueses identificam Marco, Cátia e João J., concorrentes da ‘Casa dos Segredos’ e favoritos à vitória no reality show. A Correio TV quis perceber se os modelos pré-concebidos ainda ajudam a ganhar concursos ou se são apenas uma construção mental que facilita criar histórias em volta do programa.


Marta Cardoso, ex-concorrente do ‘Big Brother’ e actual comentadora dos diários da ‘Casa dos Segredos’, diz que já não faz sentido falar em estereótipos como nos primeiros reality shows porque, muitas vezes, estes "só existem na cabeça daqueles que estão na casa". O psicólogo Quintino Aires, pelo contrário, considera que as imagens pré-concebidas podem ajudar a ter sucesso. "Orientamo-nos por guiões que a sociedade vai oferecendo, que favorecem o aparecimento de estereótipos", diz. Posição intermédia adopta outro comentador dos diários da ‘Casa dos Segredos’, Nuno Eiró, para quem os modelos-padrão fazem sentido "no caso de alguns concorrentes". Eiró compara a situação a uma novela onde tem de haver "personagens demarcadas para que a trama se possa desenvolver".

Marco, 21 anos, vive na Amadora e é pasteleiro. Tem sido o centro de várias discussões dentro da casa. As saídas de Sónia, João F., Ricardo e de Paulo fazem crescer a teoria de que quem se incompatibiliza com o concorrente acaba por ser expulso. Uma coincidência ou apenas estratégia? Marta Cardoso considera que Marco poderá, a partir daqui, mudar de atitude e partir para o estereótipo do ‘injustiçado’. "As pessoas gostam daqueles que lutam pelo seu amor e não são correspondidas", afirma, em alusão à atribulada relação com Susana. Quintino Aires, colaborador habitual de ‘Você na TV!", na TVI, diz que Marco tem "uma arte fantástica para agredir e depois se colocar no papel da vítima", o que revela uma figura duplamente estereotipada. Nuno Eiró considera que o concorrente não representa qualquer imagem pré-concebida embora "compreenda a comparação com Marco Borges [‘Big Brother 1’]. João F. que viveu momentos de tensão com Marco, não acha que haja uma estratégia deliberada: "Isso aconteceu comigo [a expulsão depois de um momento de tensão], mas foi tudo uma questão de nomeações".

Cátia, 22 anos, vive em Portimão e é auxiliar de acção médica. É, neste momento, uma das mais populares concorrentes da ‘Casa dos Segredos’. As calinadas de cultura geral e o comportamento exagerado são já sobejamente conhecidos dos portugueses. A concorrente parece, no entanto, fugir à imagem de qualquer figura previamente concebida, dada a sua peculiaridade. "Não considero a Cátia um estereótipo porque nunca tínhamos visto nada assim", diz Nuno Eiró. Para Quintino Aires, a algarvia é um caso particular uma vez que "não é normal do ponto de vista psicológico". Quem lança algumas acusações é Paulo, o último a sair da casa. "Ela é muito dissimulada. Isto é um jogo e as pessoas deviam vê-lo como tal". No entanto, reconhece: "Se tem assim tanto sucesso, imagino que possa ganhar".

João J., 26 anos,vive em Proença-a-Nova e é empresário. A história deste tipo de reality shows mostra que o ‘coitadinho’, que à partida passa despercebido, acaba por ganhar popularidade ao longo da competição. Assim aconteceu, por exemplo, com Zé Maria (‘Big Brother’) e António (na primeira edição da ‘Casa dos Segredos’). Mas Marta Cardoso acha que a única vantagem que João J. tem é a de vir de um meio rural, ao contrário do público que maioritariamente vê este tipo de programas, que é urbano. Isto porque "o público acha graça a pessoas que têm outra cultura", diz. Já Quintino Aires considera que "faz todo o sentido falar num estereótipo e isso acaba por ajudar o concorrente". O psicólogo diz que a sociedade continua a ter uma certa protecção sobre a figura do ‘coitadinho’ e concluí que "a história começou no Zé Maria e vai continuar em todos os reality shows". Por seu lado, Nuno Eiró afirma que "o estereótipo funciona". Paulo considera que, "pela carga positiva que o João J. passa e por aquilo que representa, é um potencial vencedor". Já João F. acha que este "não tem possibilidade de ganhar".

Personagens secundárias no jogo dos estereótipos acabam por ser João M. e Fanny. Isoladamente, nenhum se enquadra numa imagem préconcebida, mas juntos alimentam um jogo de casal cujas incompreensões mútuas não permitem ir mais longe. Paulo considera mesmo esta relação como ‘obsessiva’ por parte de Fanny, mas não totalmente correspondida por João M.

Vencedores ou derrotados, certo é que estes foram escolhidos entre mais de 80 mil candidatos. E a produção, seguramente, não descurou os estereótipos em que cada um iria encaixar.

Fonte: Correio da Manhã