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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Cada um tem o seu... [4º Episódio]


De repente, Sónia ouvira um estrondo vindo do lado de fora do quarto, assustou-se e foi ver o que tinha acontecido. Abriu a porta do quarto e estava Ana, paralisada no meio da sala, a olhar para um jarro de flores que caíra ao chão.


-Ai... desculpa se te acordei. Vim buscar um copo de água, ia agora para o quarto, desequilibrei-me e deixei cair o jarro. Podes ir dormir, que eu limpo isto! - Justificou Ana.

-Não, não faz mal. Eu ainda não estava a dormir. Deixa estar que eu ajudo-te a limpar isto.

Ambas se ajoelharam para apanharem os pequenos cacos de vidro que estavam espalhados pelo chão da sala. Ao ajoelharem-se bateram com a cabeça uma na outra, ficaram olhos, nos olhos durante um bom tempo. Sentiam-se as duas estranhas como se um sentimento novo lhes tivesse penetrado pelo corpo adentro. Algo que nunca sentiram antes. Ambas acharam estranho, pediram desculpa um pouco atrapalhadas e continuaram a apanhar os pequenos cacos de vidro. Quando já estava tudo limpo, cada uma seguiu para o seu quarto com um 'Boa noite'

Sónia, fechou a porta do seu quarto, apagou a luz e dirigiu-se para a cama. Sentou-se e suspirou, deitando-se de seguida para tentar adormecer. Nunca mais se lembrou daquilo que sentira na sala. Já com Ana acontecia o contrário, mal conseguia dormir com aquilo que tinha acontecido, ela próprio já tinha notado que estava diferente, quando Sónia estava no quarto não resistiu a olhar lá para dentro. Era como algo que não conseguia dominar, Ana estava profundamente preocupada com o que se podia estar a passar.

Ricardo, saiu do quarto, vestiu o casaco que estava pendurado e foi-se embora. Saíra com tanta pressa que nem reparara em Rosália que estava deitada no sofá, já a dormir profundamente.

Foi à garagem, montou-se na sua moto e fez-se à estrada. Ia ter com uns amigos da escola a uma discoteca não muito longe dali, era cerca de 00:13 quando chegara à porta da discoteca. Estava animado, descontraído. Como se não tivesse nenhum problema ou preocupação, tudo na "descontra" era o seu principal pensamento. Passaram-se 3 horas, Rosália ainda dormia no sofá, António também dormia profundamente, Sónia também dormia, mas ao mesmo tempo incomodada, já Ana não conseguia dormir, aquele pensamento incómodo, constrangedor mas delicioso e delirante ao mesmo tempo, não a deixava sequer fechar os olhos.

Ricardo ainda na discoteca preparava-se para sair. Estava atordoado, tonto, com a vista desfocada. Subiu para cima da sua moto, e arrancou. Tudo à sua frente estava destorcido, mal conseguia ver a estrada onde seguia. E assim aguentou-se mais de metade do caminho, até que perdeu por completo o controlo da moto, andou cerca de 3 metros assim até que se espetou contra um carro. Ricardo estava agora estendido no chão, em cima de uma vasta poça de sangue, a moto ficara totalmente destruída e a parte traseira do carro também.

-Chamem uma ambulância, rápido. - Gritava o condutor do carro desesperado enquanto saia da viatura.

-Meu deus, alguém chame uma ambulância. - Tornou a gritar o homem cada vez mais desesperado enquanto estava ajoelhado junto ao corpo já pálido e fraco de Ricardo.

Poucos minutos depois, a ambulância chegou, levaram Ricardo para o hospital, o condutor do automóvel, recebia alguns tratamentos por causa de algumas feridas ligeiras.

Rosália, deitada no sofá, ouvia agora o seu telemóvel tocar. Acordara um pouco atordoada, passou a mão pela cara, levantou-se pegou no telemóvel e atendeu.

-Estou? Quem fala?

-Estou? Rosália Cunha?

-Sim sou eu, quem fala?

-Daqui fala um médico do hospital de Lisboa, lamento muito dizer isto mas... o seu filho está internado nos cuidados intensivos e em estado grave. Teve um acidente de mota, e partiu a perna direita.

-O quê? Não, não pode ser. Eu vou já para ai.

-Ok, assim que chegar eu informo-lhe do actual estado do seu filho.

Rosália completamente desesperada entrou pelo quarto adentro a gritar.

-Levante-se António, levante-se. O meu filho foi teve um acidente de moto, e foi parar ao Hospital. Temos de ir agora mesmo para lá.

-O quê? Um acidente? Não pode ser. Vá andando que eu já vou lá ter consigo, afinal já está vestida.

-Está bem, mas despache-se. - Gritava Rosália, desesperada que saiu de casa num ápice.

-Olha esta agora, tenho de me levantar da cama ás 4:00 da manhã para ir dar a mãozinha a um adolescente irresponsável que não tem juízo algum. Ela que espere mais um bocado que já lá vou ter. - Disse António, tapando-se novamente com o cobertor, e adormecendo de imediato.

Rosália entrou no seu BMW rapidamente, ligou-o e apressou-se para chegar ao hospital, naquele momento, Rosália pensava em como estaria o seu filho. Deitado numa cama de hospital, a vida por um fio. Seria aquele momento, em que temeu a vida toda, tal como todas as mães? Rosália tinha medo do destino, e não sabia o que fazer agora nem como encará-lo. Se o filho morresse nada restava para ela. A partir dai, o que interessava o dinheiro, os carros caríssimos, as festas e tudo mais? Rosália percebeu pela primeira que talvez as coisas só tenham um valor se tivermos esticados à beira do abismo para as tentar agarrar e não as deixar fugir entre os dedos.



Joana acordara a meio da noite, Alexandre não tinha vindo dormir a casa. Estava preocupada. O mesmo disse que chegava por volta da 00:30 quando esta já estivesse a dormir. Será que aconteceu alguma coisa?Decidiu ligar-lhe quando a porta do apartamento abriu.

-Então amor? O que é que aconteceu.

-Fui ver o jogo como te disse. - Respondeu Alexandre com uma calma do tamanho do mundo como se nada tivesse passado.

-Que foste ver o jogo, sei eu. E onde é que andaste até a estas horas da madrugada? Posso saber? - Perguntou a rapariga

-Calma amor, eu fui ver o jogo. E depois fiquei em casa de um amigo meu, com mais uns amigos. É noite de futebol já sabes, coisas de homens.

-A única coisa que eu sei é que eu estava aqui preocupadíssima contigo, e tu ai na calma, a ires para casa dos teus amigos, beber e "ver a bola". E porque é que não me atendeste, nem me telefonaste a avisar?

-Fiquei sem bateria, tem calma. Pronto eu peço desculpa, por não ter avisado. Mas não deu mesmo. Pronto, desculpa.

-Ficas desculpado, mas para a próxima vê se avisas pelo menos. - Dizia isto sendo empurrada por Alexandre para o quarto.

Finalmente Rosália chegara ao hospital, saiu do carro, e dirigiu-se para a entrada. Rosália caminhava pelos corredores do hospital, para ela era como uma estrada, essa estrada tinha apenas dois destinos, e apenas um era verdade. A verdade de que Ricardo estaria vivo ou morto.